em 06/05/14
Assim como em outros livros adaptados para o cordel, A Megera recebe um tratamento que conta um pouco da história do livro, da época em que ele foi escrito, sobre tal adaptação para o cordel, sobre o autor (William Shakespeare), o poeta que adaptou (Marco Haurélio). A apresentação do texto já discute que algumas, normais, mudanças ocorrem, mas pelo visto algo restrito a um nome. Temos o Petruchio sendo chamado de Petrúquio, mas Catarina, Bianca e o pai das duas: Batista Minola, são mantidos sem alterações. Quem acompanha novela, já acompanhou ou convive com quem conhece do assunto, sabe bem que a novela O Cravo e a Rosa é adaptação de A Megera e até mesmo alguns filmes já trabalharam esse contexto de irmãs, cada uma com uma personalidade e um pai super protetor que proibi a mais nova de se relacionar enquanto a mais velha não desencalhar (temos o exemplo de 10 Coisas Que Odeio Em Você).
Esse livreto apresenta esses dois exemplos e discorre um pouco sobre a história do texto que percorre o tempo e as artes. Quanto as mudanças para a linguagem de cordel, o poeta mantém fielmente o contexto original e somente o ambiente nordestino se faz presente no linguajar de cada verso.
Com uma história de amor e humor que aproxima dois opostos, quase, extremos, vamos lendo cada verso com aquele gosto de “que trem legal viu”. Envolvido nessa atmosfera poética, criei minha própria versão: Catarina é mesmo uma megera, louca e desvairada, que não pode ouvir gracejos que já fica enfezada; Bianca é doce, pura e encantada, que só de ouvir melodias já se sente apaixonada; Petrúquio é um galanteador corajoso, que se atreve a domar a megera, sem deixar de ser também charmoso. Estrofe à estrofe acompanhamos as desventuras de Petrúquio tentando conquistar Catarina que de grosseria em grosseria tentar afugentar qualquer pretendente.
Acredito piamente que essas apropriações mais regionalistas possam contribuir e muito para o crescimento literário e assim como várias adaptações para quadrinhos, o cordel favorece demais o conhecimento de histórias já clássicas e serve muito como iniciação para leitores que, ou se intimidam com tamanho de livro, ou possuem aquela fatídica preguiça de ler, simplesmente ler. Cordel e quadrinhos são mais fáceis e ágeis.
Uma notícia que saiu essa semana discute algo parecido sobre mudança. Claro que não há adaptação aqui, mas um forma de construir algo facilitado para os leitores. A obra de Machado de Assis sofre simplificação de uma escritora para que haja incentivo à leitura. Mas aqui não acontece o direcionamento da obra para outras vertentes de arte, me parece que há uma mudança da escrita do aclamado autor nacional pura e simplesmente. Eu defendo que exista caminhos que trabalhem o incentivo à leitura, defendo que muita coisa deve ser realizada da melhor maneira possível, mas será que a pura simplificação seria uma opção viável. Pode ser que sim, mas até quando isso ajuda mais do que atrapalha? Fica aqui a questão.
ResenhasTags: Cordel, Klévisson Viana, Marco Haurélio, William Shakespeare
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eu gostei muito deste livro ,li quase todos os livros de Shakespeare e esse é uma comédia muito engraçada.