em 10/07/13
Sócrates nunca escreveu nada. Não há livros ou discursos elaborados escritos pelo filósofo grego que iniciou a racionalidade desmitificando os deuses e discutindo o logos em vez da phisis. Tudo que há sobre Sócrates foi divulgado por Platão ou Xenofonte. No texto a ser resenhado hoje, temos um discurso excelente sobre como Sócrates trabalhava a questão de ética e verdade para ele. O que o condena, mesmo quando amigos pedem para que ele pense na vida e não somente em ser justo.
O grande filósofo sempre deixou claro que a busca pelo conhecimento deveria ser direito de todos. Ele discutia com qualquer um que quisesse saborear um pouco de sua sabedoria e isso muitas vezes incomodava os poderosos (o que não é diferente hoje em dia). Em praça pública – Ágora -, ele passava os dias conversando e debatendo sobre quaisquer assunto com qualquer pessoa, sem preconceito ou arrogância. Muito que era observado em sua filosofia era a questão da sua fala ser direcionada pela Ironia e Maieutica, conduzindo a conversa entre questionamentos até o interlocutor conferir o parto de uma ideia mais correta e racional. Mas sua conduta não era bem vista, pois instigava a juventude a argumentar, questionar, analisar, refletir e, acima de tudo, pensar. Além de incitar os jovens na discussão filosófica, Sócrates também questionava os velhos deuses e isso o fez pagar um caro preço. Seu julgamento foi pautado em cima dessas questões e a sentença foi a de beber cicuta.
O livro segue como forma de diálogo entre Sócrates e seus acusadores, Meleto em especial. O começo é constituído de sua defesa e podemos acompanhar o filósofo e Meleto discutindo sobre o que foi feito de errado e pelo réu, enquanto esse tenta argumentar de forma contrária, expondo a contradição de seus acusadores. A escolha de Sócrates é sempre pela verdade e pelo discurso ético. Sem aceitar renunciar tudo o que já ensinou e deixando claro o quanto seus interlocutores estão equivocados, aceita a morte no lugar de desvirtuar seus conceitos e viver conforme as leis corrompidas que insistem em o punir.
A leitura pode exercitar reflexões individuais e todo o diálogo existente na obra também serve como exercício de reflexão filosófica, uma marca constante nos livros de Platão. Sócrates aqui não é um personagem apenas, pois o texto funciona como um acontecimento real e um relato verídico de como tudo aconteceu. Ele não é parte da imaginação platônica. Foi mentor de Platão por anos e seu legado é deixado nos livros como se fosse por ele mesmo escrito. Indico como item indispensável, para se ler ou ter, de qualquer amante de filosofia ou apenas interessado no mundo da sabedoria.
Resenhas
Tags: Ediouro, Filosofia, Platão
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8 Comentários em “Resenha – Apologia De Sócrates”

Não. No caso de incitar a juventude a discussão e questionar os deuses, Sócrates pagou o preço de ser julgado e pagar com a própria vida.
Se todas as pessoas fossem como sócrates. na MINHA opinião o mundo seria melhor!
Sócrates é comprometido com a “verdade” e faz disso sua “ética”. O problema é que o conceito de “verdade” ao longo da história já nos demonstrou grosseiros erros. Sócrates e seu éthos moralizante subjulgou alguns dos nossos instintos e colocou a “razão” acima deles. Imaginar um mundo no imperativo modo socrático é desesperador…, agora, um mundo no modo grego de vida é coisa bem mais refinada…, Sócrates em nada se parecia com um grego!
Nesta obra fica bem claro a intenção de Sócrates e a de Platão seu maior discípulo. A (racionalidade) deveria prevalecer, o acesso à verdade deve ser desejo e “conhecimento” de todos… Sócrates quando escolhe ser sua “própria defesa” o simbolismo/imagem ali incorporada transpassa as doutrinas de verdades universais e imutáveis, dando inicio à dialética na racionalidade.
Qual será o gosto da cicuta?
Gosto de morte.
O efeito a gente sabe qual é, agora, o gosto talvez o próprio Sócrates possa lhe informar em outra narrativa platônica intitulada Fédon…
Segundo paragrafo, penúltima linha: “Pagar um caro preso” ? ia pagar uma fiança cara?