em 05/11/13
Blues não é somente um estilo musical, vai além, exalta um estado de melancolia e tristeza inerente a sua origem. O ritmo característico do “delta do Mississippi” embala os contos de repressão e batalha dos negros norte americanos. Originado nos anos 1920 e se alastrando pela história, o blues congrega o sofrimento e luta de um povo que precisa ser conhecido.
Crumb dá uma aula histórica sobre o blues e seus lamentos recorrentes. Aqui podemos acompanhar todo o efeito de pré-conceito familiar. Aprendemos como os brancos não prestavam atenção no que os negros cantavam e como até entre eles existia rixa, com desprezo fornecido pelos religiosos ou aqueles “respeitáveis” da própria cor. A própria comunidade negra via com maus olhos a cantoria que, para alguns, era do tinhoso ou embalava festas regradas a putas e cafetões. Inegavelmente podemos entender como a perversão, luxuria e condição viciosa conduzia o ritmo e também lemos sobre as lendas que ensinam sobre encruzilhadas e pactos com o diabo, mas claro que não é somente isso.
No início dessa HQ fantástica, temos um texto que serve muito como uma apresentação do que nos aguarda e desvenda um bocado sobre o autor “…historiador confiável da América”. Crumb é detalhado como um artista que vai contando uma história que precisa de cuidados especiais. Ilustrando e roteirizando um passado cheio de particularidades lendárias e causos caricatos, Crumb consegue contar histórias que elevam a condição do que é interessante e chega ao patamar do que é fundamental, para quem é apaixonado pelo Blues. Tudo aqui é essencial para caracterizar o que tal gênero musical pode representar. Podemos até acompanhar como o tempo vai mudando e o que tais mudanças representam (também) para um lugar específico.
Uma breve história da América.
A HQ possui algumas histórias, todas versam sobre momentos diversos, como batalha entre gravadoras, altos e baixos da música, brigas entre músicos e familiares, situações até mesmo aparentemente desconexas com a música, mas que tem a ver com nostalgia e acaba nos conectando com tudo que o blues sempre representou. Existe ainda um posfácio do autor, contando um pouco sobre ele e sua relação com a música. Todo o trabalho é uma tentativa de preservar a memória cultural e, digo à vocês, é um fato consumado com louvor.
As ilustrações de Crumb são outra fórmula caricata que empolgam a visão. Os traços, vezes exagerados das mulheres (com suas coxas grossas), vezes riscados das paisagens, contrastam com as feições alegres, assustadas e envolventes dos personagens. Até mesmo alguns os olhos esbugalhados são quase que personagens aleatórios de arte peculiar do autor.
QuadrinhosTags: Conrad, Quadrinhos, R. Crumb
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