em 17/12/13
Esse ano eu finalmente quebrei a barreira de ler quadrinhos. Achei que tudo era Turma da Mônica mas acompanhando as resenhas do Ragner e do Gabriel aqui no Poderoso comecei a mudar de opinião. E mudou totalmente depois de ler Joe Sacco com o seu Palestina.
Maus é uma “biografia parcial” (vamos dizer) do pai de Art Spiegelman – um judeu polonês – Vladek. Em 1978, já nos Estados Unidos, Art visita seu pai e pede que ele conte as histórias do Holocausto, como sobreviveu, o que viu e etc. Vladek começa então a nos levar por uma viagem no tempo. Aprendemos um pouco sobre sua juventude, como conheceu a mãe de Art (Anja) e como viu sua terra natal – a Polônia – ser tomada por um sentimento anti-semita intenso. Já sabemos o que acontece em seguida, certo?
Os arianos chegam e os campos de concentração começam a encher. Art narra toda a jornada de sua família – da casa em que moravam, para casa menores onde 20 pessoas dividiam 2 quartos, para os guetos e, por fim, para os campos de concentração. Aos poucos, os judeus foram diminuídos a nada mais que….ratos.
Art vai e volta no tempo para nos mostrar também um pouco de seu próprio relacionamento com o pai. Não é um relacionamento simples. Vladek tem manias que desenvolveu na época da guerra (comer pouco, gastar pouco, contar tudo o que tem, não jogar nada fora, devolver produtos abertos ao mercado para trocar por outros) e Art não consegue lidar com muitas delas. A vida moderna não é feita para pessoas que não buscam conforto constantemente.
Além disso, Art insere uma história interessante: quando ele e a esposa estão voltando do supermercado com o pai, eles encontram um caronista e decidem dar uma carona. Vladek fica maluco porque o caronista é….negro. Ele ficou com medo que o rapaz roubasse os mantimentos. A esposa de Art aponta, então, que esse é o tipo de preconceito que levou ao Holocausto, mas Vladek não consegue fazer a conexão.
Vladek torna-se um Senhor difícil. Parece ainda lamentar muito a morte da esposa (que sobreviveu a Aushwitz mas se matou quando Art tinha 20 anos) e ao primeiro filho do casal (que aos 3-4 anos foi envenenado pela tia para que não fosse levado para um campo de concentração). Todas essas perdas somadas a tudo o que viu e foi obrigado a aguentar, fez de Vladek uma pessoa complicada. Como o próprio Art afirma: Vladek sobreviveu ao Holocausto…mas nem todas as partes dele conseguiram sair vivas.
Soube de Maus através de alguns vídeos na internet. Com a minha queda por histórias de guerra, fiquei muito tentada a ler esse quadrinho. Fiquei imaginando se o fato de ser desenho quebraria de alguma maneira a intensidade da história. Negativo. O fato de os judeus serem desenhados como ratos, os alemães como gatos e os poloneses gentios como porcos, colocou um drama a mais. Apesar de ser quadrinho, você sente todo o drama por trás da situação…tanto do Holocausto quando da relação pai e filho.
O Ragner me guiou um pouco pela resenha e, segundo ele, para fãs de HQ (estou chegando lá) é importante falar sobre a arte. Então aqui vai uma impressão de uma novata sobre a arte: não achei os personagens extremamente expressivos, a força desse livro está mesmo nos textos incorporados. E apesar de as pessoas serem retratadas como animais, funciona. Quase que um visual de Revolução dos Bichos.
Uma leitura sensacional, de fato.
QuadrinhosTags: Art Spiegelman, Biografia, Companhia das Letrinhas, História, Quadrinhos
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3 Comentários em “Resenha de Quadrinhos – Maus”
Já tá na estante…mas ainda não cheguei lá. 🙂
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Maus é genial. Leia Persépolis, se não leu ainda… bem mais leve, mas também muito interessante.