em 08/10/18
“Sem volta”, de Charles Burns, é denominada de “trilogia pós-apocalíptica”. Não à toa. Nela encontramos lagartos, jovens em busca de significado pra vida, aberrações da natureza e ambientes fúnebres, descolados do que chamamos de realidade.
Burns nasceu em Washington, em 1955, tendo seu trabalho reconhecido na antiga revista RAW, editada nos anos 80. Seu grande clássico é a HQ Black Hole, pela qual recebeu os maiores troféus da indústria de quadrinho: o Eisner, o Harvey e o Ignatz, além do Fauve D’Or, concedido pelo Festival de Angoulême, na França. Atualmente o autor vive na Filadélfia com sua esposa e um gato. “Sem volta” foi seu projeto mais longo, logo após este clássico premiadíssimo. E é uma quebra no tradicional formato preto e branco de seus desenhos.
Nesta coletânea encontramos a história do jovem Doug. Ele é um cara que tenta encontrar seu espaço na vida. Em meio à cena Punk da época, faz performances em show de bandas de amigos, bem no estilo Burroughs. Sim, Sem volta é recheado de referências aos ícones das artes da década de 70. Temos referência a Patti Smith (com a imagem da capa de seu disco Radio Ethiopia), à cena Punk, aos devaneios de uma época e, visivelmente, Doug tem traços inspirados no personagem Tintim (o jornalista personagem principal do belga Hergé), um dos mestres referência para Burns.
A história em si, nos apresenta os devaneios de Doug, adolescente que tenta se encontrar em meio aos seus dilemas. Tentando fazer parte de uma turma e de uma cena. Ele busca vivenciar o amor ao mesmo tempo que tenta se situar na história de amor (ou não) de sua mãe e de seu pai. A morte de seu pai também compõe pano de fundo aos questionamentos do personagem principal. É nessa pegada que a trilogia vai se desenrolando. E ela é muito bem costurada.
Foi uma delícia ler esta HQ e encontrar todas estas referências. Nos traços dos desenhos, nas falas dos personagens, nas imagens desenhadas encontramos discos clássicos e diversas HQs lidas pelos personagens desta história. Parece ser uma grande homenagem. Li em algum canto que o autor afirma que seus quadrinhos sempre são histórias de amor. E, neste, percebe-se seu amor por uma época.
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Livro enviado pela editora
Tags: Charles Burns, Companhia das Letras, HQ
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