em 14/04/15
Numa análise pessoal e rasteira hoje os admiradores da sétima arte, que em sua maioria defendem e bradam bandeiras à favor de um cinema mais orgânico e menos superficial e megalomaníaco, sofrem por demais vide ao grande volume de “lixo” produzido pelos grandes estúdios e que chega em toneladas à salas de cinema mundo afora. Porém, que acha que este fenômeno industrial do cinema é uma realização recente muito se engana, pois o mesmo já era alardeado e combatido há tempos como retrata o finado diretor cubano Tomás Gutiérrez Alea em Dialética do espectador.
Lançado em 1983, a obra, dividida em seis ensaios, tem como ótica central discutir a ideologia mercadológica do cinema popular e a sua relação com o espectador. Tomando como ponto de partida o cinema cubano da década de 60, o autor parte da premissa que cinema precisa ter cunho social para atingir sua real finalidade: transformar realidades.
De modo abrangente, o autor inicia a sua lógica criticando de maneira pontual o formato imperativo dos blockbusters (gênero que na época recomeçava a ganhar corpo graças aos sucessos multimilionários das franquias Star Wars e Tubarão) que atendem meramente a lógica do capitalismo que prima por subverter valores humanos (de acordo com a necessidade vigente de mercado), não abre espaço para reflexões e transformações humanas resultando em mero entretenimento para o público, que alienado age de maneira passiva ante o que lhe é exposto.
Militante das artes, Tomás, em contrapartida ,verbaliza sobre a necessidade do cinema retomar as rédeas transformadoras de outrora. Sob a sua ótica é dever da sétima arte promover e encaminhar o espectador, das mais variadas esferas da sociedade, à saída do lugar comum. Segundo o autor, mais do que meramente expor a realidade é papel do cinema, tal como o teatro do dramaturgo Bertold Brecht, inquietar o público, que precisa adotar uma postura ativa e questionadora para que, posteriormente, modifique ao mundo ao seu redor.
Por mais que a obra careça de exemplos e soe repetitiva em alguns momentos, a análise proposta em Dialética do espectador segue de maneira atual e funciona como um autêntico manifesto em prol do que o autor chama de cinema social, gênero hoje extremamente necessário e raro, pois vivemos atualmente dias confusos por excelência e carentes de ideais conjuntos .
Por fim, um breve olhar para as salas de cinema (que hoje basicamente estão nos shoppings) e os filmes em cartaz bastam para perpetuar que a alienação fílmica infelizmente veio para ficar.
Parafraseando Amélie, personagem central do longa O fabuloso destino de Amélie Poulain: “são tempos difíceis para os cinéfilos”.
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