em 08/05/13
Esse livro faz parte da Coleção Clássicos Fantásticos da editora Lua de Papel. Vem de uma onda de adaptações que começou nos Estados Unidos com Orgulho e Preconceito e Zumbis (que deve virar filme logo) e Abraham Lincoln – o caçador de vampiros (que recentemente virou filme) de Seth Grahame-Smith. Outros autores seguiram a mesma linha e, finalmente, o gênero chegou ao Brasil.
Nessa adaptação, temos o bom e velho Bentinho descobrindo coisas muito estranhas sobre sua adorada Capitu e não, não estamos falando de traições e afins (quer dizer, não da maneira clássica que entendemos uma traição). Bentinho e Capitu cresceram juntos e apaixonaram-se mas, Bentinho estava destinado ao seminário e deveria tornar-se padre – até aqui a história segue o padrão estabelecido por Machado. Ele estava transtornado em deixar Capitu mas ela tinha um plano.
Aos poucos, a trama vai ficando mais complexa. Descobrimos que há duas espécies de alienígenas, os anunaques e os aquepalos que estão se digladiando para assumir o controle da Terra. (E isso não é spoiler porque se você leu o título e não esperava alienígenas, recomendo fortemente aulas de interpretação de texto ;)) – Amostra:
“Os anunaques não se alimentam de comida, mas da energia gerada por emoções negativas…Daí terem criado estruturas sociais cujo único propósito é criar conflito entre as pessoas. Estados, nações, seitas, tudo o que divide os seres humanos em facções que se opõem entre si é obra dos anunaques. Mas essas estruturas seriam ineficazes se a própria constituição biológica do homem não estivesse predisposta ao conflito.”
Os anunaques são do mal e Bentinho se vê no meio de um projeto maior do que poderia imaginar onde os aquepalos começam a criar uma subespécie misturando seu próprio código genético com os humanos. Escobar, Sancha, José Diaz…todos estão presentes nessa versão. Claro, o papel de cada um muda um pouco mas eles garantem o gostinho da história original. E isso é importante porque todos esses novos elementos poderiam, facilmente, colidir com a história criada por Machado de um homem paranóico que acredita piamente que sua esposa o traiu com seu melhor amigo apesar de não ter provas concretas; tudo em sua mente e seu corpo o guiam para essa conclusão.
O que posso dizer sem estragar muito da trama, é que todos esses componentes se mantém nessa adaptação. E de maneira muito agradável.
Pessoalmente, se me pedissem para reescrever um livro de Machado eu tremeria nas bases. Esse é um desafio que eu não aceitaria porque as comparações são inevitáveis. Mais ainda porque estamos falando de personagens consagrados na literatura nacional e de um dos maiores autores que já existiram por aqui (se não O maior). Mas Lúcio Manfredi não faz feio. De fato, sua escrita é boa e acompanha bem o ritmo que Machado criou para Bentinho e suas desavenças.
Para mim, foi como redescobrir Dom Casmurro – um livro que já me agradava muito antes (apesar de eu ainda ser time Brás Cubas). Recomendo demais para quem já gostava do original e para quem não gostava também. Pode ser uma boa maneira de descobrir Machado de um jeito completamente diferente e sem preconceitos – talvez uma forma interessante de apresentar esses livros para jovens leitores que estão começando agora a ler literatura mais densa.
ResenhasTags: Ficção, Literatura Nacional, Lua De Papel, Lúcio Manfredi, Machado de Assis
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