em 06/02/19

Esaú e Jacó são nomes que nos remetem à Bíblia. Eram gêmeos, filhos de Isaque e Rebeca e netos de Abraão e aparecem em Gênesis. A mãe preferia Jacó e se uniu a ele para fazer com que o pai, quando velho, desse sua bênção a este e não a Esaú que nasceu antes e, portanto, teria mais direitos. Os irmãos brigam e eventualmente fazem as pazes.
Machado usa a base da história bíblica para seu enredo: a bela Natividade, casada com Santos está grávida. O casal descobre que espera gêmeos e a mãe se preocupa em descobrir o que será dos filhos. Uma famosa clarividente da cidade diz que eles serão grandes homens. A família Santos vive de maneira bem confortável e o patriarca é ambicioso. Eventualmente, a família consegue um título de Barão e Baronesa.
Pedro e Paulo crescem e seus pais definem suas profissões: Pedro será médico formado no Rio de Janeiro e Paulo será advogado formado em São Paulo. Os garotos alimentam birras infantis desde criança e caem no clichê de se apaixonar pela mesma garota, Flora Batista. Flora gosta de ambos sem conseguir escolher.
Tudo isso acontece durante a derrocada da escravidão no Brasil e a queda da monarquia com a proclamação da República. Pedro era pró-monarquia e Paulo queria ver a Revolução. Aqui poderíamos ter tido alguns debates interessantes sobre a situação do país na época, mas Machado focou na diferença de opiniões dos irmãos como maneira de demonstrar um Brasil quebrado, mas ainda assim com interesses mútuos.
A Família Batista, inclusive, é um ótimo exemplo da política brasileira. O pai teve um cargo renomado durante a Monarquia e quando a Revolução aconteceu ficou desolado. A esposa o convenceu de que seus valores valiam para ambos os lados. Ou seja, não seria ruim ele ter um cargo na República porque ele sempre foi republicano….à sua maneira. É o suco de laranja brasileiro que existe desde que o país foi descoberto.
Sabemos bem, que cá por terras Tupiniquins a monarquia cai mas nunca desaparece de verdade, nos proporcionando um “príncipe” com twitter e cargo na República com um longo histórico de comentários que agregam coisa nenhuma ao nada que a família real representa atualmente.
Em 1990, Susan Sontag escreveu um artigopara a New Yorker resenhando Memórias Póstumas de Brás Cubas. No artigo, Sontag diz que “ainda mais marcante que a ausência de Machado da literatura global é o fato de que ele ainda é pouco lido na América Latina, fora do Brasil – como se fosse difícil de digerir que o melhor autor da América Latina escrevesse em português e não em espanhol.”
Concordo que Machado seja, talvez, o maior autor da América Latina de sua época. Esaú e Jacó representa apenas uma parte disso. Não é o melhor livro do autor, mas faz jus à sua fama de criador de enredos que refletiam o momento.
ResenhasTags: Ficção, Literatura Nacional, Machado de Assis, Nova Cultural
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