em 03/02/16
Eis um livro que me fez pensar em várias coisas ao mesmo tempo: no quanto o universo Star Wars é muito bom; no quanto de história existe além das contadas pela trilogia clássica; nos dois lados de histórias existentes para os rebeldes e cidadãos do Império e em uma analogia clara e fantástica em relação ao Nazismo. Sim! Nazismo. É surpreendente o quanto podemos aprender sobre o povo alemão que defendia Hitler e sua eloquência megalomaníaca. Aprender como é possível estar do lado de lá, sem acreditar no quanto o Führer era mal com todos aqueles contrários às suas certezas. Já tivemos no Poderoso a resenha do filme A Onda, que versa sobre o quanto o povo alemão foi manipulado e ofuscado pela propaganda nazista, defendendo a supremacia da raça ariana, e mostrando como aquilo influenciava na vida de todo mundo.
Em Estrelas Perdidas, podemos acompanhar a história de vida de duas pessoas que compartilham as mesmas ideias e ideais, até cada um escolher um lado por entenderem de maneiras diferentes aquilo que sempre almejaram e defenderam. Um escolhe o dever e supremacia do Império, enquanto o outro escolhe não viver mais a sombra de algo que considera opressor.
O enredo de Estrelas Perdidas gira em torno de Thane Kyrrel e Ciena Ree. Duas crianças que nasceram no mesmo planeta, cresceram em situações diferentes – Thane é um garoto da segunda leva, de família tradicional, e Ciena é uma garota do vale, sem grandes posses. Ainda quando crianças, o Império chega ao planeta, nos limites da Orla exterior, e inicia seu domínio cultural. Ambos são fascinados pelas naves imperiais e desejam se tornar pilotos da frota. São escolhidos para estudar na Academia em Coruscant – um dos principais planetas do Império – e devotam suas vidas à aprenderem o que for necessário para tornarem-se os melhores entre os melhores. Mas Thane sempre teve problemas com autoridades e Ciena é um exemplo de cidadã.
Os acontecimentos de Uma Nova Esperança, O Império Contra Ataca e O Retorno Do Jedi, são citados como pano de fundo aqui. A destruição de Alderaan, a explosão da Estrela da Morte, a descoberta da base rebelde no congelado planeta Hoth e até a batalha de Endor são acompanhados pelos dois protagonistas e ainda entendemos como cada lado vislumbra tais atos e consequências. Seja pelo olhar rebelde de Thane ou pela visão disciplinar de Ciena. Sem tomar partido ou conceber mal e bem, é até possível justificar os atos de ambos e o quanto eles estão convictos de suas ações.
Thane cada vez mais vislumbra os excessos do Império e Ciena vai encontrando desculpas pelas ações de um Império que ela julga o único poder capaz de trazer ordem à galáxia. Todas as milhares de mortes causadas pela guerra são comentadas, aumentando o ódio dos rebeldes pelas ações imperialistas de Palpatine e também a ira dos oficiais imperiais contrários à guerra “iniciada” pela Aliança Rebelde. O tempo aproxima demais os dois e os torna amantes, mas o dever e descrença acaba os afastando, motivando cada um a defender seu lados: Thane contrário a manipulação e a favor do direito pela livre escolha e Ciena justificando atos extremos.
Estrelas Perdidas consegue penetrar na mitologia de Star Wars de uma maneira fantástica. O livro desvenda acontecimentos que são óbvios, mas deixados de lado na história clássica, pois o que nos importa nos filmes é o que envolve os protagonistas. Pilotos, tripulação e demais planetas acabamos deixando de lado, mas aqui podemos vislumbrar o que se passa por outros olhos e a autora fez isso muito bem. Fantásticamente bem.
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O livro foi enviado pela editora.
Tags: Claudia Gray, Ficção, Seguinte
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