em 12/01/16
Pedro Henrique Neschling faz parte da geração que cresceu nos anos 80 (da qual fiz parte) e que acreditava que tudo seria possível, que sonhos se realizam de maneira instantânea, que poderíamos abraçar o mundo carinhosamente e ele nos retribuiria na mesma medida. Mas a medida em que nos aproximamos da idade adulta muitas das vezes as nossas projeções para o futuro caem ladeira abaixo dolorosamente a medida em que as resposabilidades surgem. Gigantes, livro de estreia de Neschling, é o espelho desta geração. Mesmo que de maneira embaçada.
Escrito de maneira envolvente e centrado em diálogos (tal como um roteiro cinematográfico, característica essa comum aos romancistas contemporâneos) a obra narra a vida de cinco amigos (à saber Duda, Camila, Fernando, Zidane e Lipe) ao longo de 10 anos, partindo do fim da adolescência. Nesse entremeio, a vida de cada um (representada em capítulos distintos) segue caminhos geralmente isolados (com esporádicos encontros), onde enfrentam batalhas diárias em busca de sua própria identidade, de uma carreira sólida e do próprio lugar no mundo. Escolhas que permeiam a todos na idade adulta.
Recheado de referências pop (Neschling é fã assumido de Nick Hornby, um dos patronos desta seara) a narrativa é dominada por alusões a canções, livros e filmes que colaboram para compreender não só a essência de cada um dos personagens como também ajuda a ilustrar o momento retratado. Recurso utilizado com certo exagerado , mas em alguns momentos pontual.
Quase tudo certo até aqui, mas Gigantes esbarra em três problemas substanciais. O primeiro e mais gritante é relativo a linguagem empregada. É fato de que o público alvo do autor seja o público de jovens leitores (que possivelmente acompanham sua carreira na TV ou no teatro), mas o texto em si está relativamente preso a esse universo. Em determinados momentos as falas dos personagens não se encaixem ou soam estranhas para quem já atingiu ou esparasse que tenha atingido a maturidade. Outro problema é a sucessão de clichês (principalmente os relacionados ao amor) e a previsibilidade do texto, que segue um formato linear, sem muitas surpresas ou permeados por emoções rasas.
Quem acompanha o mundo das artes sabe que nem sempre é possível acertar de primeira. Há muitos casos e exemplos na área literária no qual o autor(a) vai, livro a livro, construindo o seu próprio formato a cada lançamento, aprendendo com erros, encontrando a sua real identidade até a esperada maturidade escrita. Tal como Hornby (que atingiu agora o ápice de sua escrita com Funny Girl, seu sexto romance) Neschling tem potencial que merece ser trabalhado. É dar tempo ao tempo.
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O livro foi enviado pela editora.
Tags: Ficção, Paralela, Pedro Henrique Neschling
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