em 08/07/20

Matilde Campilho nasceu em Lisboa (82) e morou no Rio de Janeiro entre 2010 e 2013. E isso diz muito deste livro. Acho que posso dizer que este é um livro luso-brasileiro,escrito nesse trânsito entre os dois países e numa mistura não só do português de cá e o de lá, mas também rompendo as fronteiras geográficas. Mistura-se tudo, localidades, sonoridades, culturas.
Para além desse trânsito Portugal-Brasil, a autora passeia por várias línguas e as insere em seus poemas. Inglês, Italiano, Espanhol passeiam no meio de seus poemas. Citando trecho de músicas, de poemas diversos, livros ou, simplesmente mudando a língua para prosseguir com sua escrita.
AMOR FAZ-ME FOME
[…]Fui reparar que agora tu e a tua miúda fazem
cafés da manhã para entregar em domicílio
Perdão queria dizer pequenos-almoços
deixemos o café e as manhãs para outras dinastias[…]
A autora brinca com a poesia. É uma poesia super contemporânea. Que muitas vezes se transforma em prosa. Traz, o tempo inteiro, o cotidiano nas cidades por onde passa e foge do lugar comum dos temas utilizados na poesia clássica. Muito embora, aborde eles o tempo inteiro.
PRÍNCIPE NO ROSEIRAL
[…]
Escute só
isto é um poema
não vai alinhar conceitos
do tipo liberdade igualdade e fé
Não vai ajeitar o cabelo
da menina que trabalha
com afinco na caixa registradora
do supermercado
Não vai melhorar
Não vai melhorar
[…]
Em muitos momentos a poesia de Matilde Campilho me remeteu a Nicanor Parra. Não na forma e nem nos temas, embora a autora também faça muitas críticas sociais em sua poesia urbana. Mas por fazer uma poesia que a todo tempo coloca a poesia como coisa do cotidiano lugar comum, como a anti poesia do Parra. Será que viajei muito?
ResenhasTags: Editora 34, Matilde Campilho, Poesia
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