em 30/03/20

Li recentemente o Conto da Aia, escrito por Margaret Atwood nos anos 80. Uma distopia que, aqui no Brasil, ganhou fôlego após a adaptação do livro pela série intitulada The Handmaid’s Tale. Não fiz a resenha aqui, pois o livro não me impactou como aconteceu com a maioria das mulheres que o leram ou assistiram à série. Sim, eu sou o ponto fora da curva no caso deste livro. Mas tem resenha dele aqui feita pelo Bruno.
Porém, por ser o livro do mês de março no Leia Mulheres Olinda, resolvi ler Os Testamentos e ver no que deu a história. Ou o que a autora ia fazer com ela, já que houve uma grita geral para saber o depois do Conto da Aia. Bom, eu segui não sendo impactada. E mais ainda, me pareceu um livro escrito por outra pessoa. Uma narrativa completamente diferente do primeiro livro e, em momento algum, me senti lendo uma distopia. É um livro bom de ler? É. A autora tem o dom da narrativa e vai prendendo você nela. Mas pra mim é só isso.
Depois que li O Conto da Aia, fiquei me perguntando o que eu não havia gostado. Porque a história não me impactou, tendo em vista ser um livro que nos coloca numa sociedade totalitária na qual perdemos todos os nossos direitos e etc? Não tive essa resposta até ler Os Testamentos. Só na leitura dele me veio esse motivo: acho a premissa da autora equivocada para o momento. Mesmo sendo O Conto da Aia escrito nos anos 80.
E porque fico com esta impressão? Por que, apesar do recrudescimento mundial com regimes totalitários e fundamentalismos religiosos tomando conta do mundo, me incomoda um livro escrito por mulher prevendo a nossa derrocada e nos imaginando nas situações colocadas em ambos os livros. Acredito numa literatura como potência motivadora e, imaginar uma mulher parando pra escrever um distopia sobre o contrário do que estamos lutando há anos, me incomoda muito.
O alento em Os Testamentos, vem das mulheres infiltradas, daquelas que, mesmo tendo participado da construção de Gilead enquanto nação, percebem a grande merda que se meteram e lutam como podem pra modificar isso.
O livro me pareceu escrito às pressas, numa tentativa de responder a fãs e ao mesmo tempo tentando sair da distopia criada no Aia, para trazer à realidade. O final dele me deu esperança no coração e a sensação de um caminho aberto para um terceiro livro, onde o matriarcado reine e, espero, não replique o passado. Pois também fiquei com essa sensação. As infiltradas eram uma tentativa de acabar com os ditos desvios aos quais Gilead foi seguindo, mas não acabar com ela. Vejamos o que acontece.
ResenhasTags: Distopia, Margaret Atwood, Rocco
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