em 13/01/19
Clarice Sabino é carioca, nasceu em 98 e é sobrinha-bisneta (nunca que imaginei essa denominação) de Fernando Sabino. Em 2016, Clarice começou a escrever seus poemas nas redes sociais sob o nome de Nada disso é para você ( no Facebook e no Instagram).
A obra “Para que serve a poesia?” tem uma edição bem bonita elaborada pela Editora Penalux e é o primeiro livro publicado da poetisa. A capa e contra capa são lindíssimas. O livro tem poemas divididos nas seguintes partes: servir, ser, sou, expiro, arte, você, agora e nada.
E, como as próprias partes divisórias do livro indicam, a autora vai escrevendo sobre vivências que remetem ao encontro consigo mesma. Ou o encontro e desencontro de todas/os nós ao longo de nossas caminhadas.
“Prometo jurar debaixo do santo
em cima da mesa na porta da igreja de mão
na bunda de copo gelado ajoelhada no milho
caminhando até aparecida que é minha vizi-
nha da torre três e mora no quinto andar de
onde dá pra ver o vidoca e seus compostos
não identificados que normalmente boiam de
maneira majestosa o que eu só percebi quan-
do o sol às seis e vinte uma da tarde de uma
quarta feira reluziu em um material translúci-
do que aparecida jurou ser um diamante mas
era só um caco de vidro de uma garrafa de
cerveja vencida que vendem no posto da es-
quina e foi lá mesmo que eu resolvi prometer
de dedinho só jurar com base nas experiências
que eu tenho nas promessas que eu já que-
brei e nas que eu provavelmente devo fugir das
obrigações que agradeço e doa agradecimen-
tos que obrigo e das vantagens que eu ofereço
o que com certeza absoluta
talvez
irei cumprir”
Clarice, como talvez não poderia deixar de ser, tem uma linguagem bem contemporânea. Faz pouco ou nenhum uso da pontuação e suas poesias tem uma estética própria. Na maioria das vezes não segue a diagramação clássica das poesias. Ou será que segue? A da poesia contemporânea, aquela mais literal, rápida, fluída, cotidiana.
“eu não tenho medo do escuro
quando eu fecho os olhos eu sou o escuro
e eu não tenho medo de mim
eu não temo a imensidão
eu sou a imensidão
meus próprios vazios me preenchem
eu sou infinita
na minha falta
e no meu excesso
depende de quem me olha
depende de como me olha
o que seca e o que pinga
o que suja e o que limpa
o que cala e o que grita
o que liberta e o que limita
o que repete e o que imita
o que rima e o que irrita
eu não tenho
medo do escuro
quando eu fecho os olhos
eu sou
o escuro
e eu
não tenho
medo de mim”
Foi uma grata surpresa este livro pra mim. Li numa noite despretensiosa e fui fisgada até a última página.
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Livro enviado pela editora.
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