em 23/12/20

Se o mito da democracia racial não fosse uma das maiores falácias da realidade brasileira, o trabalho de Lélia Gonzalez seria referência não só na esfera acadêmica, mas também teria ampla repercussão com o grande público. Porém, como estamos muito distantes desta realidade somente agora, décadas depois, teremos acesso a sua vasta obra.
Nascida em Belo Horizonte em 1936, Lelia gradou-se em História e Filosofia, fez mestrado em comunicação social e doutorado em antropologia, onde de especializou em pautas ligadas a questões de gênero, raça e etnia. Um feito raro para o período já que o papel atribuído a uma mulher negra estava “naturalmente” associado a valores retrógrados e classicistas.
Organizada por Flávia Rios e Márcia Lima, Por um feminismo afro latino americano (Zahar) é uma compilação de um trabalho voltado a uma vida dedicada a militância. Composta por dezenas de artigos escritos entre as décadas de 70 / 80 / 90, a obra faz um belo apanhado da carreira que transitou tanto no ambiente universitário (dentro e fora do país) como também integrou movimentos importantes da militância negra brasileira como a MNU (Movimento Negro Unificado).
Dona de uma escrita livre e didática (na maiorias das vezes), Gonzalez ao longo dos textos selecionados direciona o seu olhar a temas pontuais, ligados ao racismo estrutural, ao patriarcalismo, ao capitalismo, entre outras feridas que a sociedade (em especial a América Latina) ainda teima ao questionar a validade ou por negar a existência.
O mercado editorial brasileiro hoje, finalmente, começa a estar atento ao trabalho de autores negros, de ontem e de hoje. E isto faz com que temas que em outrora eram varridos para debaixo do tapete tenham a devida exposição, suscitando debates relevantes que tem provocado abalos e mudanças estruturais no ideário de um sociedade que precisa refletir e agir ainda mais. E Por um feminismo afro latino americano é, mesmo que tardiamente, uma necessária contribuição para nossos tempos.
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O livro foi enviado pela editora

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