em 17/08/16
Todos envolvidos foi resenhado aqui anteriormente pelo Ragner meses atrás. Assim sendo, vamos a mais um revisitando. Pra variar venho trazer a discórdia para este site, dou 3 cafés meio ralos pra esse livro (o Ragner acabou por dar 5 doses de café), mas explico meus motivos.
Ryan Gattis foi extremamente audacioso com este livro e para tamanha ousadia foi até muito bem, pois tudo poderia ser muito pior. O autor foi professor de inglês e escrita criativa na Chapman University, na cidade de Orange que fica no estado da Califórnia, e o teor acadêmico pode ser percebido na extensa pesquisa feita para a realização deste trabalho.
Bom, vamos falar um pouco do livro. Temos aqui algo que gosto muito: um romance histórico bem embasado. O momento histórico escolhido sempre me chamou atenção, assim na primeira oportunidade que tive quis ler esta obra, vinda para terras brasileiras pela nossa parceira, a Intrínseca. O episódio em questão ocorreu em Los Angeles no ano de 1992, no dia 29 de abril até a primeira semana de maio, quando um juri absolveu 3 policiais brancos acusados de usar força excessiva para controlar Rodney King, um civil negro. Neste mesmo dia a cidade, por conta do ocorrido racista e endossado pelo Estado, a cidade explodiu em uma onda de violência que durou seis dias, resultando em torno de 60 mortos e 2.000 feridos.
Gattis não foca no conflito e nos protestos, mas no blackout das leis em determinadas regiões da cidade e a reação de algumas gangues latinas que aproveitaram o caos para resolver suas pendências e lutar por território. O livro é dividido em 6 partes, sendo que cada uma delas se passa em um dos 6 dias que se desenrolam a história e que dura o caos na cidade dos anjos.
Até aqui tudo bem. O problema está na utilização do ponto de vista de 17 personagens para contar o ocorrido. A teoria é genial, porém não acredito que tenha funcionado de maneira constante, por mais que alguns capítulos dialoguem sem problemas, outros estremecem a linha condutora da narrativa. Junto disso, os pontos de vista são contados em primeira pessoa, com os maneirismos de linguagem adequados para cada personagem, o que, algumas vezes, principalmente no começo do livro, pareceu forçado.
Não quero apenas falar mal, pois apesar de dar 3 cafés gostei do livro. Além da ótima pesquisa o livro explora os personagens de maneira complexa, fugindo do clichê maniqueísta de mocinho e bandido, talvez o melhor livro que li neste quesito. Te faz pensar sobre muita coisa, sobre certo e errado, sobre oportunidades, isonomia, direitos humanos, preconceitos, educação, família, desejos, sonhos, princípios e principalmente o que o Estado é e faz para nós, meros peões.
Este livro vale a leitura, espero que gostem assim como o Ragner gostou.
Boa leitura a todos!!
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Livro enviado pela editora.
Tags: Ficção, Intrínseca, Ryan Gattis
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